sábado, 23 de dezembro de 2006

Doze

Doze é o jogador da bancada. O primeiro do banco, o fim do ano. Doze não entra nas contas. É número para fechar balanço. Doze é um e dois, faz par, é meio-dia. O sol no lugar quente.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Dois

Dois sentimentos diferentes e iguais em simultâneo. Este dois é feminino e número de mulher. Duas. Uma porventura para sempre, outra para já. Duas que quero, duas que tenho mas que não posso. Duas que vão ter de voltar a ser uma. Talvez a mesma, a de mais tempo. Por estar mais em mim, por ser mais de mim.

Trinta

O meu pai ofereceu-me um creme anti-rugas e uma mala de viagem. Faz sentido. Fazem sentido. Trinta anos foi o tempo suficiente para perceber que os meus pés só estão bem em trânsito. Terrestre e / ou lunar. Trinta anos. Trinta nomes. Trinta formas diferentes de sorrir. Trinta anos e a minha mãe tão bonita…os cabelos cumpridos lisos ao vento, a camisola a baloiçar-lhe no corpo magro, o cheiro a iodo da praia de sempre. Os olhos azuis da minha prima num esforço feliz de quem se vê a gerar vida. E o sorriso tímido do meu pai. A Laidinha a gritar comigo «agora toca com o nariz», quando os dedos não chegavam para acabar as escalas. A minha garganta a tremer de nervos, os olhos cheios de água a beberem vontades numa clave de Sol. Persistência. Gelados enormes a embelezarem férias gigantes. Eucaliptos. Tantos eucaliptos. E massa com arroz. A minha irmã. O melhor de mim. A Branca, a Sandra, a Márcia. A Márcia. E os extraterrestres que nós escrevíamos. Depois a Pipi, o Abel, o Lucas e o Afonso. Outra vez o Afonso. Gargalhadas. Enigmas. Livros. Mãos. Olhos. Corpos. Jogos. Pedaços de nós. Pedaços de mim. Ferreiros. O meu passaporte. O piano encostado à parede. A lareira da casa da minha mãe e a luz fraca do candeeiro antes de adormecer. A minha banheira. A Sofia, a Beatriz, a Maria Inês, o Hugo. Trinta anos. As minhas avós, o meu avô Eduardo. A neve no Alvão. Uma cadeira de baloiço. Um trevo de quatro folhas. Um beijo.